segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Interferência em comunicações de Emergência

Esta é mais exímia matéria que aborda o tema PLC e seus riscos na segurança das comunicações de emergência. Alguns sábios de plantão insistem em dizer que essa tecnologia irá levar internet aos locais mais distantes, eles se esqueceram apenas de um fato, a tamanha interferência nos serviços de comunicações de emergência em especial o serviço aéreo. 
A fonte desta matéria foi retirada do portal TELECO.





Afinal, se o “PLC/BPL não interfere”, por que a ANATEL sugeriu “faixas de exclusão”, “zonas de proteção” e “zonas de exclusão”?

As denominadas “faixas de exclusão” – de acordo com a Consulta Pública – na verdade não excluem o PLC e sim “amortizam” os sinais interferentes em algumas – e não todas – as faixas de rádio, destacadamente da aeronáutica e radioamadores. As chamadas “zonas de proteção” idealmente teriam as interferências reduzidas em algumas freqüências da marinha em estações costeiras, enquanto as “zonas de exclusão”, de PLC zero, ficariam em apenas 3 pontos geográficos no Distrito Federal.

O problema é que – se considerarmos as “zonas de proteção ou exclusão” como eficientes - são em número extremamente incipiente diante do universo de serviços, aeroportos, centros de comunicações, instalações-chave do executivo como ministérios, secretarias do governo, instalações de monitoramento e inteligência, sedes diplomáticas como embaixadas e consulados, localizações que utilizam HF, posições das forças armadas que não se restringem apenas em quartéis, mas atuam como forças táticas em ações móveis, treinamentos e atuação fora das “zonas de proteção ou exclusão”.

Até mesmo as sedes regionais da ANATEL foram esquecidas na Consulta Pública da “proteção” contra as interferências PLC/BPL.

Tomando as estações costeiras, sequer foram incluídos os principais portos do Brasil: Santos e Paranaguá. Procurou-se “proteger” os pontos utilizados pelo Salvamar, mas se esquecem que as comunicações são bilaterais. Não basta apenas teoricamente proteger um lado da comunicação: os navios também se comunicam em HF, são estações móveis marítimas de rádio, trafegam perto da orla, estão atracados em portos tantos principais como secundários (marinas), onde as interferências PLC/BPL – a considerar as propostas da ANATEL – poderão inviabilizar suas comunicações emergenciais, de localização e captação das cartas sinóticas e meteorológicas transmitidas por estações de rádio nacionais e internacionais em MF e HF.

O mapa 2 apresenta a carta meteorológica emitida pela Armada Chilena na faixa de 17 MHz captada em São Paulo por meio de HF-FAX. As Interferências PLC afetarão não apenas a recepção de serviços nacionais, bem como os oferecidos pelas marinhas do exterior (14).

Neste panorama, as embarcações terão dificuldades para receber sinais emitidos pelo próprio governo brasileiro, através dos Serviços Rádio Meteorológicos da Marinha, pelo Centro de Hidrografia, dos boletins de condições de tempo, difusões especiais de tempestades, informações transmitidas a todas as embarcações pela estação PWZ-33 (Rio Rádio), bem como das demais emissoras regionais e internacionais.

Mapa 2: Carta meteorológica emitida pela Armada Chilena em 17 MHz captada em São.

Os navegadores inclusive podem contribuir ativamente para o sistema via rádio através do programa “Navios de Observação Voluntária” (Mensagem SHIP), em acordo com a OMM (Organização Meteorológica Mundial). Ou seja, há outros pontos tanto de geração como de recepção de informações relevantes por rádio cujas localizações não podem ser totalmente e previamente determinadas. As comunicações bilaterais por rádio não podem ser ameaçadas por interferências como o PLC, sob pena defragilizar a defesa e segurança envolvida nesses meios de transporte.

No mapa 3 os pontos em verde representam as embarcações atracadas em portos ou móveis ao longo do Oceano Pacífico que se comunicam pelo rádio em várias faixas de HF em PACTOR e GMFSK. No caso ilustrado foi recebida uma mensagem transmitida em HF pelo navegador VK4BSQ. O sistema é de abrangência internacional.

Mapa 3: Embarcações atracadas em portos ou móveis (pontos verdes) no Oceano Pacífico que se comunicam pelo rádio em faixas de HF em PACTOR e GMFSK.

Para as comunicações aeronáuticas civis e militares, também vários aeroportos e corredores aéreos foram ignorados de qualquer idealizada “proteção” pelos promotores do PLC/BPL.

As faixas e localizações utilizadas para comunicações de controle entre empresa aérea – aeronave (CCO) no HF, aplicados especialmente nos longos trajetos onde a cobertura do VHF não é atendida, foram totalmente negligenciados na Consulta Pública. (15)

Os promotores do PLC sinalizaram que novas áreas de proibição poderiam ser acrescidas posteriormente. E se a região a ser proibida já estiver sendo atendida com um parque PLC? Todos os dispositivos serão inutilizados? Qual o tempo seguro entre uma transmissão emergencial ser interferida e o desligamento total do PLC na planta interferente? Cabe a responsabilidade de gerenciamento de RF as empresas de energia elétrica? E as atribuições legais exclusivas da ANATEL?

Como equacionar a mobilidade das forças armadas – que não se restringem as zonas militares - frente às restrições que empresas de energia elétrica imporão às suas comunicações móveis e portáteis?

Não bastassem as problemáticas das pouquíssimas áreas e faixas teóricas de exclusão, há a séria questão da propagação em HF unida aos efeitos de uso cumulativo, cuja potencia irradiada total vinda de uma ampla área PLC aumenta o nível de ruído (noise floor), com suas interferências sendo propagadas para dentro e além das “zonas de proteção e exclusão”, bem como em propagação vertical da RFI.

York EMC Service, comparando diferentes serviços de comunicação, especificou que:a única tecnologia que parece aumentar significativamente o nível de ruído (noise floor) através do efeito cumulativo de propagação por camadas ionosféricas é o PLT. (16)

Isso porque, diferente das comunicações por cabo, o sinal PLC é de banda larga e não discreto. Ele interfere no segmento todo e não em freqüências pontuais de fuga com respectivos harmônicos.

Os aviões ao se aproximarem de uma planta densamente ocupada pelo PLC poderão ter a rádio recepção em HF prejudicada, com a perda de sensibilidade final em seu sistema, especialmente para os sinais mais fracos tornando-se imperceptíveis frente ao aumento do nível de ruído.

Até mesmo a OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte) identificou o risco das interferências PLC e indicou atenção a questão, enquanto empresas como a Boeing também manifestaram suas preocupações. (17) (18)

Barry Malowanchuck avaliou que: Para uma implementação do BPL com a densidade de 1 sistema por quilômetro quadrado, teremos interferências na recepção de rádio nos aviões de um nível moderado a alta intensidade a uma altitude menor que 6 quilômetros dentro de um raio de 12 km de implementação do sistema BPL. (19)

A foto 2 apresenta a antena multibanda para HF utilizada pela FAB no Aeroporto de Anápolis/GO. As forças armadas utilizam ativamente o HF para manterem suas comunicações com unidades dispersas geograficamente, inclusive em áreas não previstas de “proteção” PLC (Foto: Gustavo Maia, 2007).

Foto 2: Antena multibanda para HF utilizada pela FAB no Aeroporto de Anápolis/GO.
Foto: Gustavo Maia, 2007.

Notem: num período ainda grave da aviação nacional, onde todas as formas de proteção ao vôo e comunicações entre aeronaves estão sendo empreendidas na esfera pública e privada para que acidentes aéreos sejam evitados e as comunicações sejam ao máximo eficientes, um momento de grande batalha contra emissoras clandestinas que interferem em comunicações com as torres dos aeroportos, de remanejamento de rotas, de novos métodos de treinamento em profissionais de comunicação aeronáutica, a tecnocracia de Brasília teve o disparate de previamente autorizar interferências PLC em segmentos de Ondas Médias ocupados por NDBs acima dos 1700 kHz, Non Directional Beacons, sinais de rádio localizados em aeroportos que servem de balizas para os aviões, mesmo quando a razoável distancia do visado parque aeronáutico. Um serviço fundamental inclusive para aeronaves de pequeno porte. (20)

Mais do que freqüências e sinais pontuais, o espectro em sua totalidade é importante pois ele prevê ocupações atuais ou futuras. Não se trata de defender localizações específicas, como desejam os empresários do setor elétrico, mas de atuais e futuros licenciamentos. O PDFF não se resume à ocupação presente, mas a segurança do planejamento na utilização futura por aquele serviço.

O espectro está a disposição do serviço e não apenas das emissoras singulares. Não cabe ao setor elétrico decidir sobre o que “filtrar” e nem a ANATEL enquanto poder público submeter o seu gerenciamento espectral às limitações técnicas de um único serviço de comunicação comercial, especialmente secundário como o PLC.

Tais amnésias e distorções do modelo PLC são sintomáticas: escancaram como um setor que não é estritamente de radiocomunicação, pretende avançar de maneira beligerante sobre um espaço que lhe é estranho, diverso, adverso, que contempla uma variedade de serviços e tipologias de propagação que são tratados como um mero detalhe a ponto de ser ignorado.

A celeridade no trato da questão demonstra a total liquidação dos questionamentos para que com a disponibilidade de mais banda possam livremente promover seu serviço, independente que isso cause interferências significativas e represente um retrocesso em engenharia espectral em detrimento do bem público e do planejamento de fato abrangente e coerente da democratização digital.

Fica pois a questão: Será que os membros do Ministério das Comunicações, da Casa Civil, da ANATEL, se responsabilizariam pela decisiva contribuição em degradar o ambiente radioelétrico, ameaçando a eficiência de comunicações emergenciais pelo rádio em HF?

A foto 3 apresenta os equipamentos de comunicação em HF-ALE num Super Tucano Embraer A-29B da FAB no Aeroporto Pinto Martins (SBFZ). O PLC em escala poderá aumentar o noise floor em HF, prejudicando a captação especialmente de sinais débeis em comunicações emergenciais.

Foto 3: Equipamentos de comunicação em HF-ALE num Super Tucano
Embraer A-29B da FAB no Aeroporto Pinto Martins.
Foto: Davi Ribeiro, JetPhotos.

Não custa lembrar que o primeiro aviso do acidente aéreo da Gol como jato Legacy em 2006 – que vitimou mais de uma centena de brasileiros - não veio por qualquer meio convencional como celular ou satélite, mas sim através de uma testemunha que utilizou um transceptor de HF localizado em uma fazenda próxima do local do acidente no Estado do Mato Grosso, se comunicando com um radioamador na cidade de Goiânia. (21)

Se as interferências PLC estivessem em atuação naquele momento, será que o aviso de emergência advindo da fazenda via rádio seria ouvido?

Portanto fora das idealizadas “zonas de exclusão e proteção” ou das “faixas de exclusão”, restaria aos demais serviços, especialmente ao cidadão brasileiro que escuta rádio como um meio de informação democrática e gratuita, a prévia condenação para conviver com a poluição PLC.

A engenharia espectral neste caso significa compartilhamento da sujeira RFI com a população civil. A boa relação sinal/ruído se torna um privilégio vetado aos demais serviços de telecomunicações em benefício dos ruídos promovidos pelas empresas de distribuição elétrica num negócio de telecomunicações pago e privado.

Na figura 4 o HF é utilizado para serviços utilitários, seja em faixas exclusivas como compartilhadas. Neste caso são mostrados sinais digitais em SDR ao redor de 6,4 MHz, Serviço Móvel Marítimo, captados no Brasil em março de 2009. Essa banda também está fora da “proteção” dos ruídos PLC.

Figura 4: Sinais digitais em SDR ao redor de 6,4 MHz (Serviço Móvel Marítimo) captados no Brasil em Março/2009.

Em termos espectrais - entre as Forças Armadas - será a Marinha do Brasil que mais perderá espectro para as empresas distribuidoras de eletricidade se o PLC for instituído nos moldes propostos. De 4,4 MHz de espectro, apenas 0,042 MHz estariam teoricamente com interferências reduzidas! Do que eram freqüências da Marinha, apenas0,95% permanecerá teoricamente com ela.

Ao analisar a canalização proposta pela ANATEL, a maioria dos segmentos da Marinha estará vergonhosamente dividido em canais de1 kHz, insuficiente mesmo para uma comunicação convencional em SSB, quanto muito uma filtragem eficiente dos dispositivos PLC. Em porções específicas como em 12,2 MHz, o setor elétrico invadirá 99,18%do que era antes destinado exclusivamente ao Serviço Móvel Marítimo.

Outra curiosidade: entre os logs de monitores especializados e aficionados de rádio utilitário, de 30 freqüências utilizadas pela FAB, Exército Brasileiro e Marinha em 9 faixas do MW/HF;28 delas estariam totalmente fora de qualquer pretensa proteção PLC, inclusive utilizadas peloSIVAM e oCentro Amazônico.

A própria diversidade de modos monitorada (inclusive criptografados) demonstra a grande utilidade do HF para as comunicações de segurança nacional de natureza militar: USB, Packet, Serial Modem 300 L, MIL-STD, SITOR-B, PACTOR-FEC, RTTY, G-TOR. (22)

O esquema 1 apresenta um sistema de comunicação militar digital (wireless e-mail) entre tropas e comando proposto pela Harris Corporation. Como em outros sistemas semelhantes, há interoperabilidade com o HF, um segmento fundamental para unidades distantes em formação de links ALE em HF (Automatic Link Establishment) e mesmo formação de HFGCS (HF Global Communication System) (23).

Esquema 1: Sistema de comunicação militar digital (wireless e-mail) proposto pela Harris Corporation.

Entre os outros serviços e usuários a serem interferidos constam mais de 60.000 estações de faixa do cidadão e tantos outros milhares de caminhoneiros que operam tanto na configuração fixa ou móvel nas principais vias do país; e mais de 33.000 estações de radioamador que estarão 5 de suas 9 faixas de MF/HF obtidas em acordos internacionais invadidas pelo setor elétrico. Todos são agentes ativos de telecomunicações que pagam pelo uso de espectro e terão agora suas faixas invadidas pelo PLC. Tais serviços oferecem em várias posições geográficas a única forma de comunicação efetiva com o resto do país.


FONTE - http://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialplcbpl/pagina_3.asp

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