Pesquisadores da Unicamp deram o primeiro passo para o desenvolvimento de um radar brasileiro do tipo cognitivo multifuncional.
A tecnologia poderá vir a ter aplicações na aviação civil e militar, nas pesquisas meteorológicas e na vigilância do espaço aéreo.
Segundo os engenheiros Bruno Suarez Pompeo e Rafael Santos Mendes, as pesquisas em torno dos radares cognitivos multifuncionais ainda estão em fase inicial no mundo todo.
O equipamento é chamado "inteligente" porque é capaz tanto de priorizar o alvo de interesse, quanto de determinar o uso dos recursos disponíveis para o seu monitoramento.
Bruno Suarez Pompeo, as pesquisas com radares inteligentes estão em estágio inicial no mundo todo.
Para isso, o radar cognitivo multifuncional deverá ter a capacidade para realizar diversas tarefas, seja de forma separada, seja de maneira combinada.
"O radar pode atuar isoladamente em cada uma dessas frentes ou em todas elas simultaneamente. Essa atuação é feita de forma cognitiva. Ou seja, primeiro ele realiza uma varredura para fazer o reconhecimento do cenário. Em seguida, de maneira automática, ele orienta a sua antena eletronicamente e usa de forma otimizada os recursos disponíveis. Tudo isso, claro, pode ser alterado pelo operador, que tem autonomia para interferir nas decisões", detalha Bruno.
Como funciona o radar inteligente
O pesquisador conta que o seu estudo teve que cumprir três frentes.
A primeira foi baseada em uma tecnologia denominada "arranjo de antenas", que data da década de 1960 e que vem sendo bastante utilizada ultimamente em pesquisas envolvendo radares.
O desafio foi estabelecer um diagrama de radiação, a quantidade de energia que deve ser direcionada para cada ponto do espaço, por exemplo, para acompanhar mais perto uma aeronave suspeita do que as aeronaves reconhecidas. Isso deve ser feito de forma eletrônica, já que as antenas não possuem seções separadas que possam girar de forma independente.
A segunda frente superada foi o desenvolvimento de métodos para fazer com que a tecnologia fosse capaz de tomar decisões.
"Nós criamos um sistema de inteligência, de tal maneira que o radar pudesse decidir o que fazer e, posteriormente, fornecesse às antenas a ordem para que elas conferissem peso (prioridade) aos vetores. Desse modo, ele é capaz de mudar eletronicamente as fases e amplitudes das antenas, o que permite que o feixe de energia fique concentrado num determinado vetor aéreo", explicou Bruno.
A terceira e última fase do trabalho consistiu na concepção de um simulador que pudesse juntar os dois módulos anteriores - o arranjo de antenas e o sistema inteligente.
"O interessante desse simulador é que ele também pode ser usado pela academia, no ensino de disciplinas na área de radar, tema muito pouco explorado no Brasil. Aqui, ainda temos poucos grupos que se dedicam a esse assunto. Tanto é verdade, que encontrei muitas dificuldades para realizar meu trabalho. Uma delas foi a inexistência de ampla literatura científica sobre radares", relata.
Segundo os pesquisadores, as pesquisas com radares inteligentes estão em estágio inicial no mundo todo, e ainda não há notícias de um protótipo funcional.